Avançar para o conteúdo principal

Quando as férias são regressar a casa

Há meses que as passagens estão compradas, como se isso fizesse acelerar o tempo. O que é certo é que o que parecia tão distante depressa chegou. Estes últimos dias são os que teimam em entrar em slow motion, só para chatear um bocadinho (grande).  Talvez o problema seja meu: a agenda há muito que tem sido recheada com os afazeres mais chatos e com os encontros que vão saber tão bem e a lista de coisas para levar está concluída. Não, o avião não é já amanhã! É só a minha mania da organização. Eu e as listas para tudo, elaboradas com eternidades de antecedência. Até ter a lista definitiva, entretive-me com as provisórias. Aqui e ali acrescentava qualquer coisa que me lembrava de repente. Claro que volta e meia, tenho que passar a limpo para ser perceptível. Por último é preciso  ter uma mega folha com tudo discriminado. É feita uma divisão para cada elemento da família, existe também  a secção das miscelâneas (aquelas coisas que todos usam e onde também se incluem as que ninguém vai sequer tocar) e ainda há  o departamento dos imprescindíveis, sem os quais ficamos em terra ou precisamos de motorista para as férias (até que não era mal pensado). 
Ao ler o que escrevi apercebo-me que existe o sério risco da minha viagem ser para o psicólogo, visto que os mais alarmistas podem considerar que tenho uma obsessão. Não é, é só organização (levada ao extremo). Jogando pelo seguro e para o caso de me virem buscar, até às férias não abro a porta a desconhecidos e vou fazer uma lista das pessoas autorizadas a entrar cá em casa. 
Organizações à parte, estamos todos em pulgas com a ida a Portugal. Até os miúdos já andam em contagem decrescente, talvez contagiados pelos pais. As crianças estão entusiasmadas por rever a família e com as idas à praia. Os graúdos parecem uns verdadeiros petizes quando se encontram na eminência de comer um chocolate. Nós vamos repor os níveis de conforto português. Vamos  reencontrar as nossas pessoas, aqueles que foram e são os nossos lugares, as nossas comidas (tenho lista para ementas, não vá esquecer-me de alguma). 
Não sei se vou ter braços para os abraços apertados desejosos de serem dados. Que bom que vai ser voltar aos encontros com amigos e ter o privilégio de disfrutar da família! 
Que saudades do mar! Tenho a sorte de morar ao pé do Tamisa,  às vezes olho para ele e finjo que é o Atlântico. Fico longe de enganar-me,  faltam o cheiro e o barulho das ondas. Pela primeira vez vou ignorar o frio e saborear um belo mergulho. Se congelar, sempre se pode aproveitar para fazer uma estátua com um dizer "Aqui jaz Maria,  feliz depois do seu último banho de mar" (fica registado o pedido). 
Ah! E o imprescindível café. Vai ser bebido e cheirado de tal maneira que vou transbordar cafeína. Como é possível não haver café de qualidade num país de primeiro mundo?! Esta gente anda a beber um líquido castanho, convencida que é expresso. 
Como emigrante quase british vou deparar-me com uns problemas técnicos. Ouvir e falar português em todo o lado e a toda a hora vai ser estranhamente saboroso, à excepção dos meus filhos, que no máximo já só misturam as duas línguas. Espero não contribuir para o rol das histórias mirabolantes de emigrantes e suas famosas frases em estrangeiro. Outro senão, em Portugal os carros andam à direita. Depois de meses a habituar-me que a circulação é à esquerda, o que ganho é voltar ao meu país e habilitar-me a levar com um carro em cima. 
Entre reencontros, mergulhos, cheiros e sabores vou absorver e guardar tudo numa caixinha para trazer comigo. Não fossem estas as férias de regresso a casa! 

Comentários

  1. As férias passam a correr e muitas vezes a distribuição do tempo não é um processo fácil, sendo necessário uma flexibilidade considerável para se conseguir estar com quem se sentiu a falta mas também com um conjunto alargado de pessoas, que convocam esse momento.
    Nós cá vos esperamos para um abraço longo, caloroso e apertadinho e uns dedinhos de conversa. Já temos saudades vossas!!!
    ADORO-TE

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Não há tempo nem distância...

O avião levantou. Lá em baixo a terra cada vez mais pequena, aos poucos estou a afastar-me da minha casa. Ainda consigo ver uns pontinhos lá ao fundo, até que as nuvens me turvam a visão. Os próximos pontos que vou ver serão aqueles entre os quais passarei a andar.  A viagem é uma espécie de realidade paralela, estou ali sentada sem estar, penso em tudo e não  penso em nada. Sinto-me amorfa e, de repente surge o entusiasmo por estar prestes a encontrar o meu companheiro de aventura. O entusiasmo desvanece quando os rostos da despedida se fazem lembrar.  Em terra ficaram pais preocupados com a filha. Eu trouxe na  bagagem o peso do abandono. Trouxe comigo o mimo e aconchego que vão precisar quando a idade avançar.  Vim atrás dum presente e futuro melhores, não só para mim mas principalmente para os meus minis. O que os deixa realizados, como pais e avós. Mas isso não suaviza o facto de terem lá ficado e não dissipa o grande senão do amanhã: serão velhos felizes comigo longe?  E

Happy Sunday!

Acordámos com o sol a querer espreitar pela janela, depressa abri os cortinados e  convidei-o a entrar. Sem demoras, porque a agitação das crianças puxa-nos para a vida. O amor dá-nos a energia para, de sorriso no rosto, esquecer a preguiça.  Não há tempo nem vontade para atrasos, está prometida uma ida ao parque. Eu sou a mais animada. Pela primeira vez, o S. Pedro, sabendo os meus planos, guardou tudo o que é nuvens vento e chuva. Victoria Park aí vou eu, sem casaco e de óculos escuros!  Brunch com amigos e natureza, que óptimo programa domingueiro e que em nada defraudou as expectativas.  No banco de madeira corrido, as conversas surgiam entre risos e piadas. De quando em vez, salpicados pela água do repuxo, refilávamos pela tentativa frustrada de quebrar a nossa cumplicidade. À volta da mesa escrevemos um pouco da nossa história e as panquecas tornaram-se ainda mais saborosas polvilhadas pelo doce da amizade. Esticar as pernas e moer a refeição foram as desculpas perfeitas

Os antípodas da distância

À primeira impressão a distância é sinónimo de afastamento. Se queremos fugir ou esquecer alguém, vamos para longe. Se queremos que sintam a nossa falta, desaparecemos.  Eu sou a sortuda que vi o outro lado da distância: a aproximação. E não há nada de contraditório nisto. Os quilómetros fizeram-me dar de caras com a ausência física,mas aqueceram-me a alma com a constante presença moral das "minhas pessoas".  É inegável a falta do abraço, do beijo, do cheiro. Dói não conseguir estar lá nas horas de dor para segurar a mão. Custa não puder estar lá para festejar as alegrias, sentir as emoções e reacções sem a barreira dos telemóveis. O que não daria para teletransportar-me para os aniversários, para tocar na barriga amiga grávida ou ir jantar a casa dos pais!  Afinal é tão bom sentir tudo isto! Continuo a ter pessoas com quem partilhar a vida! Melhor ainda, o contacto tornou-se mais constante.  Agora não há adiamentos porque nos vamos ver mais tarde ou quem sabe nos en