O avião levantou. Lá em baixo a terra cada vez mais pequena, aos poucos estou a afastar-me da minha casa. Ainda consigo ver uns pontinhos lá ao fundo, até que as nuvens me turvam a visão. Os próximos pontos que vou ver serão aqueles entre os quais passarei a andar.
A viagem é uma espécie de realidade paralela, estou ali sentada sem estar, penso em tudo e não penso em nada. Sinto-me amorfa e, de repente surge o entusiasmo por estar prestes a encontrar o meu companheiro de aventura. O entusiasmo desvanece quando os rostos da despedida se fazem lembrar.
Em terra ficaram pais preocupados com a filha. Eu trouxe na bagagem o peso do abandono. Trouxe comigo o mimo e aconchego que vão precisar quando a idade avançar.
Vim atrás dum presente e futuro melhores, não só para mim mas principalmente para os meus minis. O que os deixa realizados, como pais e avós. Mas isso não suaviza o facto de terem lá ficado e não dissipa o grande senão do amanhã: serão velhos felizes comigo longe?
Esta foi a maior âncora. Ao pesar prós e contras, concluí que não posso comprometer o futuro com base em suposições. Por isso vim! Só que há sempre um mas. No amor, a razão por vezes perde-se. E se ficarem doentes, quem os ajuda? E se simplesmente precisarem de alguém para carregar as compras? Ou se quiserem o consolo dum passeio ao domingo? E quando um ficar sozinho? Eu não estou lá!
Permiti-me a velejar mas disposta a soltar a âncora. Não serão paragens ou retrocessos no meu rumo. Serão desvios controlados que me farão seguir em frente com a leveza da retribuição.
Para aliviar o dramatismo, resta-me dizer que, se nos é devolvido o que damos ao longo da vida, acredito que existirá uma bússola para nos orientar.
Tranquila há todos os dias aviões para te trazerem de volta a tua "casa"!
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