Avançar para o conteúdo principal

Se arrependimento matasse...

Quando ela o procurou ele já não estava lá. Mas como?! Ele que tanto lhe prometeu, deixou-a. Ele que tanto gritou por ela, remeteu-se ao silêncio.
Agora que ela se despiu de preconceitos. Agora que ela deixou de iludir-se com o futuro. Justamente agora!
Porquê a ela? Ela que tanto sonhou e planeou! Será um teste? Será que ele vai aparecer?
Ela quer uma oportunidade, quer mostrar que está disposta a viver. Finalmente ela não o tem por garantido. Ela não quer recuperar o que foi perdido nem esperar pelo que há-de vir. Ela quer agarrar nele agora, viver sem desculpas nem promessas.
... Mas ele não apareceu. Ali está ela a enlouquecer no ruído ensurdecedor do silêncio. Sozinha, mais só que nunca, porque ele sempre lá esteve, ela é que não o viu. Ele esteve em todos os lugares, umas vezes com mais pressa, outras disposto a respeitar o ritmo dela. Ora perdido entre a multidão, ora sozinho, mas sempre pronto a dar-lhe a mão. Ele sorriu e chorou com ela. Ele insistiu, persistiu e nunca desistiu perante a indiferença dela.
Ali ela arrepende-se do que poderia ter sido e não foi, tem saudades do que não viveu. Ali ela chora o que não vai ser. Deseja-o tanto! O que não daria para ele estar ali! Agora ela vê que precisa dele. Sem ele não é feliz. Agora ela quer tudo, por muito pouco que seja.
Só que ele já não está ali. Não foi abandono nem desistência. Ele próprio queria mais. Ele pensou que teria mais dela e com ela.
Estão os dois desiludidos. Ele pela frustração de não ter conseguido cativá-la. Ela por sentir que passou ao lado da vida. Ali percebe que nunca nada foi realmente seu.
... É ele! Afinal está ali! No momento em que lhe sente o cheiro, em que a pele se arrepia com o êxtase da proximidade, ela sorri... mas sem aviso é sugada para longe...
Se arrependimento matasse!... 


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Não há tempo nem distância...

O avião levantou. Lá em baixo a terra cada vez mais pequena, aos poucos estou a afastar-me da minha casa. Ainda consigo ver uns pontinhos lá ao fundo, até que as nuvens me turvam a visão. Os próximos pontos que vou ver serão aqueles entre os quais passarei a andar.  A viagem é uma espécie de realidade paralela, estou ali sentada sem estar, penso em tudo e não  penso em nada. Sinto-me amorfa e, de repente surge o entusiasmo por estar prestes a encontrar o meu companheiro de aventura. O entusiasmo desvanece quando os rostos da despedida se fazem lembrar.  Em terra ficaram pais preocupados com a filha. Eu trouxe na  bagagem o peso do abandono. Trouxe comigo o mimo e aconchego que vão precisar quando a idade avançar.  Vim atrás dum presente e futuro melhores, não só para mim mas principalmente para os meus minis. O que os deixa realizados, como pais e avós. Mas isso não suaviza o facto de terem lá ficado e não dissipa o grande senão do amanhã: serão velhos felizes comigo longe?  E

Happy Sunday!

Acordámos com o sol a querer espreitar pela janela, depressa abri os cortinados e  convidei-o a entrar. Sem demoras, porque a agitação das crianças puxa-nos para a vida. O amor dá-nos a energia para, de sorriso no rosto, esquecer a preguiça.  Não há tempo nem vontade para atrasos, está prometida uma ida ao parque. Eu sou a mais animada. Pela primeira vez, o S. Pedro, sabendo os meus planos, guardou tudo o que é nuvens vento e chuva. Victoria Park aí vou eu, sem casaco e de óculos escuros!  Brunch com amigos e natureza, que óptimo programa domingueiro e que em nada defraudou as expectativas.  No banco de madeira corrido, as conversas surgiam entre risos e piadas. De quando em vez, salpicados pela água do repuxo, refilávamos pela tentativa frustrada de quebrar a nossa cumplicidade. À volta da mesa escrevemos um pouco da nossa história e as panquecas tornaram-se ainda mais saborosas polvilhadas pelo doce da amizade. Esticar as pernas e moer a refeição foram as desculpas perfeitas

Os antípodas da distância

À primeira impressão a distância é sinónimo de afastamento. Se queremos fugir ou esquecer alguém, vamos para longe. Se queremos que sintam a nossa falta, desaparecemos.  Eu sou a sortuda que vi o outro lado da distância: a aproximação. E não há nada de contraditório nisto. Os quilómetros fizeram-me dar de caras com a ausência física,mas aqueceram-me a alma com a constante presença moral das "minhas pessoas".  É inegável a falta do abraço, do beijo, do cheiro. Dói não conseguir estar lá nas horas de dor para segurar a mão. Custa não puder estar lá para festejar as alegrias, sentir as emoções e reacções sem a barreira dos telemóveis. O que não daria para teletransportar-me para os aniversários, para tocar na barriga amiga grávida ou ir jantar a casa dos pais!  Afinal é tão bom sentir tudo isto! Continuo a ter pessoas com quem partilhar a vida! Melhor ainda, o contacto tornou-se mais constante.  Agora não há adiamentos porque nos vamos ver mais tarde ou quem sabe nos en